domingo, 28 de março de 2010


Eu a quero
porém Ela não me quer
prefiro ficar só
a ficar com outra mulher



Que castigo
Casada três vezes
Nenhuma comigo

sexta-feira, 26 de março de 2010

Sai uma saideira aí.


O colesterol tá alto, doutor?

Muito alto?
Muito
Muito, muito?
Muito, muito, muito
Passando de trezentos?
Cada muito é muito
Pois é, tem muito muito
Tem jeito?
Não vejo
A pressão tá alta, doutor?
Não?
Isso é bom?
Não
Por quê?
Tá muito, muito, muito, baixa
E cada muito é muito muito
Isso
E agora?
Pede a saideira.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Lições pela internet


O que você vê na tela?
Vários ícones. É esse o nome dessas figurinhas e símbolos, lá no alto?
Isso, isso. Tá vendo, você já sabe alguma coisa.
Mas isso é moleza, até a minha irmã de seis anos sabe.
Tem razão. Bem, vamos lá. Clique com o botão direito do mouse sobre o ícone que se parece com uma folha A4 com uma dobrinha, no canto esquerdo da tela, lá no alto.Vai aparecer uma tela em branco. Digite nela.o que você tem para digitar.
Dez minutos depois, novo contato.
Digitei, e agora?
Isso, agora vá em “janela”, na palavra, ainda lá em cima, e clique com o botão direito do mouse. Vai aparecer uma relação de opções. Clique em “mala direta”.
O amigo espera alguns segundos:
Clicou?
Um minuto, pediu o aluno-amigo.
Não um, mas três minutos depois, o amigo-professor volta a perguntar:
E aí, ainda não clicou?
Ah, cliquei.
Que demora! Apareceu o quê?
Cara, a tela apagou geral, tá toda escura, mas a vizinha do 701 acabou de desabotoar o sutiã.

domingo, 7 de março de 2010

O secretário de inclusão


Não é que o prefeito da pacata Rosarina do Agreste, a 400km da capital, ia receber o assessor do governador do estado? Para a pequena cidade estava bom demais, porque a única coisa que vinha da capital era má notícia em lombo de burro velho, trazida por algum mascate igualmente velho. Isso, em lombo de burro, tamanho era o atraso do arraial.
Todos os preparativos estavam sendo feitos. A esperança era que o assessor saísse de Rosarina com uma boa impressão e trouxesse o governador, o que garantiria a reeleição. Tudo parecia correr dentro das normalidades, quando o mestre de cerimônia interrompeu o cochilo do prefeito.
_Sim, e eu com isso que o homem seja mudo?
_ Mas ele vem ver justamente isso, seu prefeito, o que nós fizemos com a verba para preparar os professores da rede para a tal da inclusão. Pior, não vai trazer intérprete. A verba, aquela verba que o senhor usou para comprar votos, era para os professores aprenderem LIBRAS.
_Vixe Maria!
_É, vixe Maria. E agora?
_Manda chamar o secretário de inclusão social
_E desde quando nós temos isso?
_A partir de agora. Nomeie alguém.
_Quem?
_Timbaúba.
_Abestou, é? O homem é de oposição.
_Então, é por isso mesmo. Ele para de falar mal da gente. Se der errado, o que eu acho que vai acontecer, quem se queima é ele.
_Mas como desgraça esse sujeito vai aprender a falar língua de mudo?
_Isso é mole, já vi na televisão. Esqueceu que a internet já chegou até nós? E o homem tem um computador em casa. Ele se vira, é coisa pra dar errado mesmo.
No dia e hora marcados, o Santana com placa branca estacionou diante da prefeitura.
O assessor desceu e se dirigiu ao gabinete. Ao lado do prefeito, todo altivo e só sorrisos, Timbaúba. Secretário de Inclusão Social, com portaria retroativa e direito a mais dez cargos comissionados, direito esse que ele exerceu imediatamente, nomeando toda a família, pois no interior é assim que funciona a política.
Conversa vai, conversa vem,Timbaúba até então estava perfeito. Conseguiu dar as boas vindas, apresentou o prefeito, a primeira dama e os secretários, mas quando a coisa pegou mesmo, mandou o prefeito chamar a polícia e prender o assessor do governador. Motivo? No gabinete ele disse ao prefeito que o assessor estava chamando não só o prefeito de ladrão, mas todo o seu secretariado, pois o gesto de cruzar a mão direita espalmada em vertical, sobre a esquerda com a palma voltada para baixo, queria dizer que o prefeito havia repartido a verba para a preparação dos professores. E o homem ficou mesmo preso durante alguns dias, até que o governador, vendo que o seu assessor não voltava da viagem, mandasse um intérprete e um advogado ao lugarejo. Adeus visita de governador, adeus reeleição,.
Em off, para o seleto grupo de amigos, Timbaúba, já sem portaria, disse que não perderia por nada desse mundo a oportunidade de acabar com a raça do prefeito, que agora estava passando por um processo de impeachment por conta mesmo do roubo. Mas quem conhece Língua Brasileira de Sinais, como o secretário de educação, que não é consultado nem na hora de contratar os professores, coisa feita pela primeira dama, garante que Timbaúba é um analfabeto em LIBRAS, pois o que o assessor dissera, entre outras coisas, foi que o prefeito estava negando aos surdos-mudos o acesso à educação. Não dissera que estava roubando.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Uma viagem com as letras


Ah, hoje pela manhã deu-me vontade de escrever
Isso mesmo: escrever
Simples
Uma imensidão de mundo a nossa volta
E mal o contemplamos
Mudei de idéia
Vou desenhar
Parece mais fácil
Desenharei, lógico, à minha maneira
Que será uma espécie de escrevinhar
Escrever e desenhar
Um m para o mar
Vários enes para as gaivotas
Um C emborcado para o morro ao fundo
Um W dá uma linda montanha nevada,
Basta virá-lo
Assim como dois R, deitados e um com a perna virada para o outro
Um E dormindo de barriga para baixo
É a casinha do pescador
Que está lá longe, depois das ondas
Num barquinho em forma de U
Pescando com a letra J
Que tem forma de anzol.
Faço ruas curvas e suaves como o S
Outras, fechadas e perigosas
Como o Z
Uma árvore cheia de X
Outra com vários Os maduros
Ao longe, uma cabana de índio, um A perfeito
Iluminada com lâmpadas em forma de G
Dependuradas em postes T
Tudo muito, muito colorido
Um campinho de futebol com traves de rúgbi
Ou um campinho de rúgbi com bolas redondinhas como os Os?
Viro o Y de ponta cabeça, colo o D em sua perna
Pronto, tenho um moleque de rua, barrigudo
Co m o Q na cabeça
Dando língua o tempo inteiro
Rsrsrssr. Não me contive e ri
O L com o O na cabeça, é um moleque sentado
Observado pelo P
Deito dois K e faço uma mesa reforçada
Com madeira reciclada
Aliás, foi a primeira coisa que fiz
Pra desenhar
Do meu jeito, eu falei
Caso falte algumas letras
E faltam
Você mesmo pode desenhá-las
Ou escrevinhá-las.
Aliás, nem precisa faltar letras
Você pode desenhar outras letras.
Como uma pintura,
Elas se precisam
Para formar palavras
Formar frases
Pra conversar
Poxa, pra tanta, mas tanta coisa,
Que com poucas palavras
Não dá para contar
Nem pintando.
Descobriu que letras estão faltando?
Isso o B
E o V
Não podiam faltar as rimas
Nessa pintura
São duas artes
São primas
A plástica
E a literatura.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Meus poemas


Esses poemas
Meus dilemas
Tristes temas
Mas poemas

Esses poemas
Como algemas
Dores extremas
Mais poemas

Esses poemas
Presos à pele , meus emblemas
Como a força da alfazema
Demais poemas

domingo, 8 de novembro de 2009

Como Timbaúba conquistou uma das mulheres mais bonitas do Brasil






Só acreditei porque vi as fotos e os negativos, mesmo assim, pedi a um amigo do Instituto Carlos Éboli para verificar se não eram falsos, o que abalou a nossa amizade. Foi assim:
Segundo Timbaúba, ele estava tranquilo no escritório, num sábado ensolarado de primavera, quando uma espécie de princesa, meio perdida, tentava abrir a porta de vidro. Nesse dia ele dispensara a secretária, aguardava a hora de pegar a filha no cinema. Sabia de cara que a visita não era para ele, a moça havia se enganado de sala, certamente. Mesmo assim, foi até à porta, que possui esses vidros que só permitem a visão a partir da parte interna, e abriu-a. Sem que a moça pudesse esboçar qualquer reação, tacou-lhe um beijão de boca, Ela, lógico, ficou espantada e revoltada, nessa ordem. O diálogo, vou transcrevê-lo:
_ Olhe aqui... seu...seu .... desaforado, sem graça, nojento, esbravejou.
_ Pelo jeito, você se enganou de sala; e eu, de namorada, retrucou, calmamente o jovem e sedutor Timbaúba.
_Você pensa que eu acredito nisso, idiota, cretino, palhaço, sem graça.
_ Tem todo o direito do mundo de duvidar, de estar aborrecida, chateada, zangada, mas não pode me chamar de nojento e nem de cretino, só agora a reconheci. Te peço mil desculpas. Não sou nojento, sou até simpático e um profissional bem sucedido. Tenho entre os meus clientes vários amigos seus, como por exemplo fulana, sicrano e beltrano, que, aliás, jpa foi seu diretor numa das novelas.
_ Isso não muda a minha opinião a seu respeito. Quer saber do mais, fui, passar bem.
_Mas você não disse o que procurava, posso te ajudar e, caso duvide da minha sinceridade, venha ver a foto da minha namorada, verá que realmente ela se parece demais com você.
Nem eu, como já disse, acreditaria, mas a moça entrou no escritório. Acho que para tirar mesmo a dúvida, porque se houvesse alguém parecida com ela, certamente estaria entre as mais bonitas e não seria desconhecida, com certeza. Ou foi só curiosidade. O que isso importa, não estou aqui para analisar o universo feminino, não me atrevo.
Timbaúba era mesmo um pândego. A foto que ele mostrou em nada se parecia com a moça, nem havia como isso ser possível. Esta não teve outro jeito a não ser cair na gargalhada, tudo que o nosso amigo desejava.
_Aqui, por hoje chega. Não estou mais aborrecida contigo, esquece que me viu. Até nunca mais.
_Como é possível esquecê-la? Hoje eu fui o sujeito mais feliz do mundo, embora o beijo tenha sido roubado.
_Ah! Então nem namorada você tem. Você é uma piada, no meu trabalho deve haver uma vaga pra você.
_Pode até ir embora, mas me diga somente uma coisa: o beijo, você gostou do beijo?
O nosso herói só foi saber da resposta uma semana depois, quando a moça reapareceu no escritório. Se ela gostou do beijo? Disso não duvido.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Praia da Ilha - Arraial do Cabo/RJ


Foto de J. Conde

O bêbado e a passageira


As sua viagens eram quase sempre longas e de ônibus. Tinha pavor de avião e não sabia dirigir. Funcionário público federal, fora transferido para o Pará. Duas vezes no ano ia ao Recife visitar parentes. Para aguentar a viagem, segundo o próprio, só mesmo com uma mulher bonita ao lado. Para conseguir tal proeza, uma semana antes da viagem, ele começava a frequentar o terminal. Passava horas proximo ao guichê da Viação Itapemirim, a observar se alguma moça desacompanhada - e bonita - comprava um bilhete para o Recife. Se isso acontecesse, ele compraria a poltrona ao lado dela.
Num sábado à tarde, arrumou as malas e resolveu viajar com qualquer companhia, pois se esperasse mais alguns dias poderia passar as férias na rodoviária. Comprou a poltrona 17 e ficou por ali, próximo ao guichê, ainda com esperança de uma companhia feminina, queria saber quem compraria a dezoito. Minutos depois, uma senhora muito idosa, tossindo bastante, aproximou-se da bilheteria e comprou a 18. A velha era meio surda, pois o vendedor teve que lhe informar a plataforma de partida várias vezes. Era meio cega também, porque pediu ao nosso colega Timbaúba para ler o horário escrito no bilhete. Pelo visto não confiava no vendedor. Como o ônibus só sairia dentro de duas horas, a anciã deixou a rodoviária, talvez para pegar as malas.
Mal a idosa saiu, Timbaúba correu para o guichê e pediu pelo amor de Deus para trocar a passagem. Mas já era tarde, todas haviam sido vendidas. Devolver não podia. "Trocar, só com outro passageiro." Explicou o atendente. Ficou desconsolado. Encarar dois dias de ônibus ao lado de uma velha caquética seria demais para ele. Sem solução, Tímbaúba entrou no primeiro bar e começou a encher a cara até ficar de porre de não se aguentar em pé. Para embarcar precisou da ajuda de outros passageiros.
Na hora da partida, da sua janela, com o pouco que ainda lhe restava de sobriedade, Timbaúba viu a velhinha acenando para o ônibus, já em movimento. Jogando-se sobre ele, uma linda morena respondia aos acenos. Segundo os passageiros, nem tacacá misturado ao açaí teria curado mais rápido o porre do Timba,

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


De arrepiar
Suava frio o sujeito que acabava de entrar no meu escritório.
_ Doutor, como faço para despedir o meu funcionário? – perguntou, sem ao menos sentar
_ Imagino que ele tenha cometido alguma falta gravíssima, para o senhor entrar assim, espavorido - comentei.
_ Sim, ao meu ver, a falta é muito grave, embora eu nunca tenha ouvido que algum outro empregado, em qualquer outra empresa, em qualquer lugar do mundo, tenha cometido semelhante falta.
_ E qual foi essa falta grave?
_ O meu empregado é um fantasma, um morto vivo, ou vivo morto.
_ E como o senhor chegou a essa conclusão?
_ Eu o vi saindo do cemitério por volta das três da madrugada..
_Vai ver não tem onde dormir e dorme lá. Dizem que é mais seguro que aqui fora, você sabe disso.
_ Doutor, não brinque com coisa séria. Tenho quase sessenta anos e um nome a zelar. Acrecite, coloquei um espelho na loja só para ver a imagem dele. Doutor, ele não reflete a imagem no espelho.
_Explicação fácil: quem tem imagem a zelar é o senhor, não ele. Então, desnecessário despedi-lo. nem precisa pagar, morto não reclama direitos trabalhistas, nem outros quais quer. Quanto à parte fantasmagórica da coisa, eu não posso responder nada, pois dissso nada entendo. Quem sabe, um espírita pode ajudá-lo.
O sujeito se retirou aborrecido com o meu humor fora de hora. Sequer cobrei pela consulta, pois achei a história muito fantasiosa. Mas rapidamente mudaria de idéia quando uns 15 minutos depois entra outro sujeito, o empregado.
_Doutor, o meu patrão disse que conversou com um advogado e acredito que seja o senhor. Ele foi aconselhado, pelo senhor, lógico, a não pagar os meus direitos trabalhistas. Acontece, que eu trabalho, doutor. Fantasma ou não, trabalho. Eu sou um fantasma funcionário, não um funcionário fantasma; o meu emprego não é público, não trabalho para o governo.
Pensei que todos os loucos da cidade tivessem tirado o dia para me zoar.
_Meu jovem, o que deu em vocês, por que me escolheram para fazer pegadinhas? Há outros advogados nesta cidade.
_Mas nenhum deles com as suas características, doutor.
_E que características são essas?
_Anúncio no obituário.

sábado, 3 de outubro de 2009

Basílica de Nossa Senhora de Nazaré - Belém do Pará.

A Promessa


Seu Raimundo Nonato andou mais de mil quilômetros. Saiu de Picos, no Piauí, e foi a Belém do Pará pagar promessa feita à Nossa Senhora de Nazaré. Chegou exausto no Ver-o-Peso e pediu uma cuia de tacacá para matar a fome. Perambulou pela cidade o restinho de dia e ao entardecer procurou um abrigo público, pois os únicos trocados só davam mal e porca para uma refeição diária, coisa que nem dá para chamar de alimentação. Mas nessa época do ano até banco de praça fica com excesso de gente, sequer dá para guardar vaga, pois os lugares ficam marcados, à espera dos donos, que só saem para fazer as necessidades e voltam. Os abrigos estavam lotados.
Raimundo Nonato, além do próprio corpo cansado, trazia uma pesada réplica em madeira, de uma perna de tamanho de perna de adolescente. Segundo ele, a filha se recuperara de um câncer graças às preces que fizera à Nossa Senhora de Nazaré. A filha fora desenganada pelos maiores especialistas, chegou a ir para o Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Uma vez em Belém, um dia antes do Círio de Nazaré, Raimundo queria dizer à família que chegara bem, graças Deus, embora com os pés em feridas e terríveis dores abdominais, devido à falta de alimentação seguida da péssima, quando havia. Raimundo foi a um dos orelhões em frente à Basílica e ligou para o seu povo. "Não diga, mulher, isso não é justo, logo agora que cheguei. Qui vamo fazê sem nossa Seiça? Como curpa minha, não deu pra vim ano passado, sabe".
Raimundo Nonato saiu cabisbaixo, pegou a réplica da perna da filha e iniciou caminho de volta.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009


Foi engano

_Tio Donato!?
_Não, aqui não tem nenhum Donato. Você dever ter discado errado.
_Desculpe, aqui é a sobrinha dele, estou tentando falar com tio Donato pra avisar a ele que já estou na rodoviária. Disquei errado. Tchau, desculpe novamente.
_Sem problemas. Tá precisando de ajuda? Posso pegá-la na rodoviária e te ajudar a encontrar o seu tio.
_Não, não conheço o senhor, nem o senhor me conhece.
_Então, mais um motivo: o seu primeiro amigo na cidade. Você já conhece Cabo Frio?
_Só de ouvir o tio falar.
_Posso ir até aí? Estou perto, caso não queira a carona, pode desistir.
_Não, acho melhor não. Está muito tarde, o tio já vai chegar. Agradeço, mas tio Donato não vai gostar se souber que eu fiz isso. Recebi várias recomendações dos meus pais.
_Qual a sua idade?
_Isso não importa, ainda moro com eles e devo-lhes satisfação, é o mínimo.
_Calma, não vamos discutir, nem nos conhecemos, como você mesma afirmou. Olha, estou indo aí, se não gostar da minha aparência, se não se sentir confiante, não tem problema. Te faço companhia até o seu tio chegar.
_Você é insistente, me venceu pelo cansaço. Pode vir, mas vou aguardar o meio tio Donato.
Meia hora depois, aparece o tio Donato.
_Tio, esse é um amigo, me fez companhia até agora.
_Muito prazer, rapaz. Vou te dar o nosso endereço, apareça lá em casa amanhã, daí você pode conversar mais com Silvinha.
_Será um prazer
_Bom, vou chamar um táxi, o mecânico ficou de devolver o meu carro mas avisou que não tem peça no momento. Carro importado é uma droga, só é bom enquanto não dá feito.
_Nada de chamar táxi, seu Donato, eu levo vocês.
_ Nada disso, meu jovem, moramos longe, não quero dar trabalho.
_Eu insisto.
_ Bom já que insiste
E foram em direção à Ogiva. O seu Donato era um idoso simpático, logo caiu nas graças do novo amigo da neta.
_ O que o senhor faz na vida, seu Donato?
_ Coleciono carros importados.
_ Usados?
_ Não. Novos, de preferência saídos da agência.E está faltando justamente uma Pajero Prado na minha coleção. Essa é uma Pajero Prado, não é?
_...

domingo, 27 de setembro de 2009


O Noivo

_Veja Bruno, esta é alemã, uma raridade da 2ª Guerra, pertenceu ao ajudante de ordens de Hitler, disse o deputado federal.
Adamastor está no seu primeiro mandato. É amigo de Vital. Vital é ex-namorado, e ainda apaixonado, da noiva do Bruno, jovem professor que está com o casamento marcado para daqui a trinta dias. Nos bastidores, Vital vem tentando sabotar esse casamento, sua única chance – ele acedita - de voltar para Heloísa. O deputado está ali para ajudar o amigo e assessor. Coseguiram descobrir o ponto fraco do Bruno: sua paixão por armas.
_A sua autenticidade pode ser comprovada pelo selo da Sotheby's, os maiores leiloeiros da Inglaterra, emendou Vital.
_Fique à vontade, Bruno, ela não está carregada, mas está perfeita, o que quer dizer que basta munição e alguém que aperte o gatilho para ela atirar. Não se preocupe quanto ao passado da arma. Segundo historiadores, o jovem Müller nunca disparou um único tiro, nem com ela ou com outra qualquer. Dizem as más línguas que ele era caso do
führer
Bruno está empolgadíssimo com o brinquedo prometido para ele. Instigado por Vital, resolve experimentar a arma e aciona o gatilho. A pistola dispara e o político cai atrás do balcão do bar.
Bruno não entende nada. Olha sobre o balcão e vê o parlamentar se esvair em sangue. Fica apavorado,incrédulo, mal consegue balbuciar as palavras.
_ Ele fa-falou qui-qui estava des-des-descarregada. E eu não-não a-apontei pra ele, a-apontei para o al-alto.
_Deve ter resvalado no teto, acalme-se, vamos.
_Mas o teto é de gesso, e sequer está furado.
_Calma, já te pedi calma. Sei que você não o matou, mas a polícia vai chegar em instantes e não vai querer ouvir explicações, pra ela o assassino será você, pior, trata-se de um deputado líder de bancada, com renome, relator da CPI da Petrobras, vão dizer que foi ato político. Vou te levar para o aeroporto, tenho passaportes falsos e amigos de verdade na Polícia Federal. Você vai para a Europa, você agora se chama Henry Breson
_ E como voltarei? Está tudo pronto para o meu casamento. Minha família está vindo de Portugal. Eu posso ir pra lá, pra Coimbra.
_ Eles te achariam em dois tempos. Não se preocupe, darei um jeito de te safar dessa, esqueceu que sou criminalista? Encarrego-me de avisar à Heloísa, ela vai compreender.
Bruno foi para Paris sem saber o que o aguardava por lá. Foi confiando no Vital. este, por sua vez, confiava muito na Polícia Federal brasileira e no capitão Patrick, da Legião Estrangeira que, com outros seis militares, aguardava o sargento Breson no Charles De Gaulle. O "militar" voltava "arrependido" da deserção em plena Guerra Civil do Chade, em 1978, quando contava com menos de quinze anos de idade.

Paixão por Belém

Estou de malas prontas
alguns anos atrasado
mas prometo não sair antes da hora
vou ficar esperando o tempo
vou me dar tantas horas
tudo vai dar certo
e se não der não me importo
as malas ficam prontas
não vou forçar nenhuma barra
qualquer coisa faço viajem de volta
e continuo esperando o tempo
contando as horas
mas as malas não desfaço
fico aguardando um aceno
vendo passar o tempo
contando sempre as horas
os dias que não terminam
os meses que não fecham
e vão passando as horas
estou de malas prontas.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Teatro da Paz
Bom demais

Achava muito estranho
Com tanta mulher bonita
Alguém se jogar da cobertura
Do Manoel Pinto da Silva
Enquanto eles se jogavam de lá,
Eu me atirava sobre alguma morena passante
Enquanto o sujeito se esborrachava
No asfalto da Presidente Vargas
Eu desfiava um poema do Vinícius no Bar do Parque
Tomando do tacacá só o tucupi
E cerpinha gelada
Depois descia a Ó de Almeida
E ia até ao final da Quintino
Para sentir as rosas da Phebo
A seguir entrava na 28 até o número 100
Só para provocar ciúmes a uma antiga namorada
Que me trocara por um sujeito de terno e sapatos
De couro de jacaré, que caminhava marcando onze e quinze
Lambuzava-me com cachorro-quente
E acabava a noite nas Docas
Contando estrelas
Ouvindo histórias
Prometendo nunca mais deixar
Belém do Grão Pará

quarta-feira, 23 de setembro de 2009


O prato principal


Não acredito que o sacana do meu noivo sumiu no dia do nosso casamento. Deve estar enfiado num dos quartos da mansão com alguma ex-namorada. Não vou perder o meu tempo em procurá-lo, nem vou fazer o mesmo que ele. Lucas, me faça um favor: vê se encontra o safado do meu marido num dos quartos lá de cima. Diz pra ele que está na hora de agradecermos aos convidados. Odeio essa parte, fazer o quê.

E aí, Lucas, encontrou o sujeito? Não encontrou. Onde será que se meteu. Alguns convidados já me perguntaram por ele. Ligue para o celular dele, por favor. Atendeu? O cozinheiro, não acredito, o que esse maluco foi fazer na cozinha. O cozinheiro quer falar comigo. Lucas, pelo amor de Deus, vai lá você, vê se tenho tempo pra falar com cozinheiros. Tô me lixando que ele ouviu, Lucas, estou preocupada com o meu noivo. É importante? Nada é mais importante que o meu casamento. Pode elogiar o cozinheiro, se for isso o que ele está querendo, não dê mais dinheiro, me cobraram uma fortuna. Podia ter escolhido um chefe aqui mesmo em Belém, mas não sei o que o meu marido viu no currículo desse carioca. Juro que ele me lembra uma pessoa, mas é imaginação minha, bobagem. Bom, diga que os pratos estão uma delícia, maravilhosos, soberbos. Diga qualquer coisa, Lucas. Me dá esse celular. Você ouviu, os pratos estão divinos. Falta o prato principal? Está vindo? Que é isso, Lucas, que sangue é esse escorrendo nessa travessa?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Senhor Feo Oso
A Rua Dos Não Abençoados com Feições Esteticamente Corretas

Na falta de uma explicação plausível para haver tanta gente feia numa determinada rua da pacata Al-Raial, os mais antigos inventaram, acredito eu, uma história tenebrosa, pois isso não pode ser verdade nem aqui nem na China. O relato, segundo eles, ficou guardado por sete gerações e só agora revelado. O manuscrito foi remetido para análise do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal do Rio de Janeiros que prometeu revelar a autenticidade do documento dentro de alguns meses. Diz ele que décadas após Américo Vespúcio ter fundado aqui a feitoria, nasceu um guri muito, mas muito feio, mas tão feio que os pais tiveram dúvida em saber a qual espécie pertencia o moleque. Sem médicos no povoado, a pessoa mais influente era um jesuíta fugido da Inquisição. Levada ao sacerdote, este falou que a “coisa” se transformaria num lindo rapaz se fossem seguidas algumas regras. Disse ainda que aquilo era castigo dos Tupinambá que, escurraçados pelos portugueses, foram comer os campistas, quer dizer, os Goytacazes. O clérigo tirou do alforje uma folha quadrada, com 49 centímetros de cada lado, e escreveu um longo texto e ao final uma recomendação. Transcrevo apenas a recomendação, pois não fui autorizado pelo patriarca dos Não Bonitos a fazê-lo na íntegra.:
“No dia sete de cada mês, toda e qualquer família com esse tipo de infortúnio, deverá pegar o seu sétimo membro - contando a partir do ascendente mais velho, na falta deste os colaterais em grau de proximidade, dos mais próximos para os menos - e gastar exatos sete minutos lendo esse texto para sete pessoas, nem mais, nem menos. Ao lê-lo, deve rasgá-lo, ou cortá-lo, de forma a obter sete pedaços quadrados. Após, sete mulheres da família, em sete datas diferentes, às sete da noite, deve colocá-los em sete sepulturas distintas do cemitério da Igreja. Se não houver sete mulheres na família, que se vistam de mulher tantos homens quanto necessário. As tumbas não podem ser aleatórias. Ao entrar no cemitério, conta-se sete sepulcros à esquerda, a partir da sétima lápide, e coloque um papel nela. Noutro dia, a outra parenta voltará ao local, dobrará à esquerda de onde foi colocado o papel anterior, contará mais sete jazigos do lado esquerdo e deixará sobre ele outro papel e assim sucessivamente, até completar a distribuição. Façam isso durante sete anos e o bebê será um lindo jovem, um Adônis. Não se esqueçam de primeiramente copiar a receita toda vez que fizerem isso, e antes de rasgá-la, lógico. Não o fazendo, não me responsabilizo”. Esse é o final da “bula” do pastor, parece coisa de grego, mas é assim que está escrita. Diz, não a “bula”, sim a lenda, que os moradores da Rua Dos Não Muito Bonitos faziam o recomendado. Um belo dia de São João se perderam na contagem depois que o único calendário foi queimado numa fogueira com o vigário acusado de heresia. O bebê até estava ficando bonitizinho, mas como encerraram o “tratamento” antes de completados os sete anos, a criança não ficou lá tão bonita. Ficou, digamos, menos feia. Mesmo assim conseguiu se casar, porém todos os seus descendentes, até os tempos atuais, ficaram desfalcados dos atributos faciais, e como ficaram.
Depois que mostrei essa história apareceu uma versão mais crível. Conta-se que os moradores do outro lado da vila, da localidade batizada como Beach Big pelos ingleses da fragata Tétis, naufragada em Al-Raial, ao saberem do nascimento do “coisinha” foram até ao padre e ficaram sabendo da solução dada pelo vigário. Na intenção de sabotarem a cura do jovenzinho, que, segundo os moradores dessa parte da vila, devia ser sacrificado, deduraram o homem de Deus aos inquisidores, acusando-o de bruxaria. O quê, cá pra nós, era a mais pura verdade. Embora não veja nenhuma graça em churrasco de padre. Uma vez sem reverendo, os moradores da Rua Dos Não Muito Bonitos ficaram, como na outra história, desamparados. Daí a explicação para que um lugar tão pequeno tenha duas Igrejas Católicas. Havia até dois cemitérios, mas com o tempo um deles foi desativado.

terça-feira, 15 de setembro de 2009


Internet, não confie.

O MSN não é nada confiável, assim como não é confiável nenhum tipo de comunicação, desde pombo-correio até as criptografadas pelo Pentágono. Voltemos ao nosso MSN. Na tela do computador do senhor X apareceu a seguinte MSG, enviada por um hacker: "amor, gostaria de ser despertado por você". No computador destinatário, o marido do amor do hacker leu a mensagem e respondeu o seguinte: "Estarei aí cedinho, toda folgosa, meu taradão". Tá confuso, caro leitor? Não está, não. Quem leu essa resposta não foi o sujeito que a enviou, lógico, foi a mulher do .... isso mesmo, de um cara que, vocês verão, está inocente, pelo menos nessa história. A mulher, que já desconfiava do marido, vigilante noturno, colocou o velho despertador para tocar na madruga e partiu às quatro horas da manhã de Japeri à Central do Brasil; de lá, num metrô para Copacabana.
O marido da suposta amante do vigilante – gosto de tudo explicadinho, nem me importo com a assonância – também fez o mesmo, num ramal diferente, no de Deodoro, mas os destinos de ambos era a Princesinha do Mar. O marido de uma não conhecia a mulher do outro. Chegaram praticamente juntos ao prédio onde funciona um shopping de luxo, isso por volta das seis da manhã, e ainda bateram um papinho na chegada. Depois, aproveitaram que vários funcionários entravam no prédio àquela hora e foram na carona. Cada um sabia exatamente o que ia fazer: dar um flagra no cônjuge. Só que isso não aconteceu, e não aconteceu porque o MSN não é confiável. O vigilante estava mesmo roncando, mas a suposta amante não estava e nem estivera ali.
Marido traído e mulher desconfiada falaram quase que ao mesmo tempo. “Cadê a minha Mulher?” “Cadê aquela vagabunda?” De um sobressalto, o pobre do guarda pulou do beliche. “Mas do que vocês estão falando?” Contada e recontada a história, ao pobre do guarda só restou dizer que nunca havia ligado um computador na vida, e quem possuía MSN era a mulher dele, e que estava no prédio desde às 18 horas do dia anterior, e vigia não tem direito nem a televisão, menos ainda à internet. A própria mulher confirmou, abobalhada, sem se dar conta que o MSN fora hackeado.”Sendo assim, onde trabalha a Fátima?” Quis saber o marido da Fátima. “Sétimo.”
Sabia que não ia adiantar muito – eu sabia, caro leitor, não o marido da Fátima ou qualquer um deles – pois os três perderam um tempo tremendo naquele papo-furado. No sétimo andar, Xande, PhD em ciência da computação, teve café na cama e música do rei Roberto Carlos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009


A coelhinha da Playboy francesa


Era um desses bolos de aniversário, muito glacê, recheado com creme de leite. Parecia gostoso, mas eu não podia comê-lo. Fui sincero, disse-lhe que tinha pânico da diabetes, embora a minha taxa de glicose fosse normal e não houvesse histórico familiar. Mas o bolo... o bolo parecia delicioso e também muito doce, e, no segundo caso, não haveria de ser diferente. Ela olhou assim pra mim, meio com peninha, – poderia estar até decepcionada, mas não estava, ou não demonstrava - e deu uma sugestão: tenho aqui algo que você pode comer, e não é doce, pelo contrário, é até salgadinha. O rosto dela ficou enrubescido de imediato. Eu só disse “cuidado, menina, você não sabe onde está pisando”. Então ela apagou a lâmpada e nos deixou no escuro. “Vou a cozinha e volto. Já volto pronta com a surpresa, quero vê-lo pronto também. Você sabe do que estou falando”, concluiu.
Ah, caro leitor, se eu te falar onde estávamos e quem era a mulher, você, no meu lugar, sairia correndo. Discreto como sou, vou omitir o nome dessa pessoa, vou chamá-la apenas de Juli, pois se trata de uma modelo muito famosa, aqui em França, e é coelhinha da Playboy. O local era o luxuoso salão da cabeleireira mais famosa de paris, Mademoiselle Haydeé Henry, no centro da cidade, ao lado da Embaixada Brasileira, na 34, Cours Albert 1er. Sairia correndo porque a coelhinha era casada com o melhor pugilista francês, e o meu plano de saúde não cobre cirurgia plástica. Mademoiselle e a modelo eram amigas, e eu estava ali para tratar de um assunto sobre direitos autorais da modelo-cliente. Digo cliente porque é assim que trato todos os clientes, não sei nada sobre as fantasias que passam nas suas loucas cabecinhas. Já tive, não vou negar, um interesse especial por essa gata, mas hoje isso faz parte do passado. Seguimos rumos diferentes, e muito, em nossas vidas. Mas ela nunca esquece, e quase sempre me cutuca. Acho que agora a vara está curta demais.
Haydeé encerrara o expediente, todos os empregados já haviam ido embora e ela cedeu o espaço para conversarmos, eu e a coelhinha. A conversa poderia ser no meu escritório, lógico, mas essas celebridades costumam ser seguidas por centenas de paparazzis, que não as deixam em paz. Entrar num escritório de um advogado especialista em direitos autorais poderia deixar em alerta as agências de publicidade e fechar algumas portas para a Juli. Enfim, estávamos todos ali, quer dizer, quase todos, mademoiselle inventara uma desculpa e foi a um bistrô na esquina.
A coelhinha me pegou num momento crítico. Senti a temperatura do ambiente subir, tirei logo o paletó, a gravata e fui tirando tudo até ficar apenas de cuecas. Como mágica, o som do salão passou a tocar uma música suave, Clair de Lune, de Debussy. Um único feixe de luz que saia da cozinha foi apagado. Do corredor veio a ordem para eu fechar os olhos. Fechei-os, o que parece ter aumentado as minhas outras capacidades sensoriais, em particular a olfativa. Sentia que a coelhinha estava muito próxima de mim, quase podia tocá-la. “Pronto, pode abrir os olhos”. Abri os olhos e ouvi um gritinho: “Surpresa! Torta salgadinha, essa você pode comer!”.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A morte de um rio

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O rio represado com razão reclama
Refreado reprimido chora
Contido extravasa vasa
Invade ruas inunda casas
Mas vejam que ironia, o rio recua
Dá nova chance a essa gente insana
Que em seguida o impermeabiliza
E obediente o rio ali fica
Dominado agoniza
se entrega se cala vira mendigo,
transportador de lixo lodo e lama
E não mais brada sequer suplica
E vai moroso lento brando mole e para
E morre.