domingo, 28 de novembro de 2010

Hora que melhora


Uma amiga postou o seguinte no Orkut: “Está na hora de orarmos pelo Rio e não de fazermos gracinhas sobre o assunto (violência) na Internet". Também acho, e o leitor, se houver algum, também deve achar. Mas orar e rezar deve ter sido as únicas coisas que foram feitas todos esses anos em que os traficantes dominaram a cidade e estenderam os seus tentáculos a todo o Estado, infernizando cidades do interior, mudando a rotina de municípios outrora pacatos.
Não sei exatamente o número de igrejas, evangélicas ou não, existentes no Complexo do Alemão, mas não deve ser pequeno, basta fazer uma rude regra de três e dar um certo desconto. Se em Arraial do Cabo, com trinta e cinco mil habitantes, temos mais de 50, a Comunidade do Alemão tem seguramente cinco vezes mais, quer dizer, umas 250 igrejas. Se ¼ dos moradores do Alemão tiverem algum credo, teremos aí mais religiosos que na nossa pequena Arraial.Os problemas daqui são infinitamente menores que os de lá, mas pelo que se vê, nem nós aqui, nem eles lá têm rezado muito nos últimos anos, ou se tem, tem sido de forma errada.
Aonde eu quero chegar com essas projeções? Além de irritar o provável leitor, a minha colega do Orkut e algum fanático religioso, caso leiam esse artigo, quero dizer que é improvável que reza e mandinga ajudem. Desculpe, amiga do Orkut, mas rezar orar, cantar mantras, acender velas, falar com os espíritos nada disso adianta nessa hora. Orar num conflito como esse dá no mesmo que tomar placebo contra o cãncer. Há ocasiões em que este funciona, mas isso é psicológico. Não resolve orar,efeitos psicológicos não desviam balas nem demove traficantes. Mas a oração não atrapalha, pode continuar orando, mas pergunte-se se não pode fazer nada mais que isso. Não se omitir, por exemplo. Lógico que não estou acusando-a de omissa, mas os seus colegas religiosos, de qualquer denominação, são bastante omissos. Alguns até ficam do lado contrário, como a Igreja Católica diante do Holocausto. Aliás, amiga, muita gente já matou e mata em nome de Deus. Tem muitos pastores tirando quase tudo de quem não tem quase nada. Alguns, descaradamente, possuem contas em paraísos fiscais. Mas isso é outra história.
Portanto, não devemos tirar graça dos fatos, deixemos isso para os Cassetas, mas não vamos apenas rezar, vamos fazer algo mais e esse algo mais começa com gestos bem menores que genuflectir os joelhos e gritar aleluias.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Nesses tempos de e-tudo, talvez seja a hora de e-relaxar


As atuais gerações, já batizadas de “e-geração” ou “geração net”, já vêm de “fábrica” com upgrade. Se acham melhores que os pais, melhores que os avós. Não é certamente a tal da evolução da espécie, explicada pelo inglês Charles Darwin. O que deveria ser o caminho natural, a evolução do ser humano, com o advento da tecnologia da informática, pode ser chamado, sem nenhum medo de errar, de involução no campo das relações interpessoais.
O que evoluiu, na verdade, foram as tecnologias, principalmente as de informática, que trouxe as outras a reboque. O ser humano, ao contrário, sofreu um processo de regressão. Parou de interagir com os seus semelhantes, acha-se auto-suficiente. Com o prestígio conquistado, somado ao dinheiro, ganho com alguma velocidade, as narinas apontam cada vez mais para o céu. Soberba é a palavra da vez para a atual geração. Intolerante, fica torcendo para que as gerações anteriores desapareçam do mapa. Para a e-geração é muito mais cômodo perder o tempo diante de várias máquinas – ela não se contenta mais com o velho PC – a ter que olhar o seu semelhante nos olhos, a ter que conversar.
Muito se tem discutido, pouco se tem feito. Na verdade, não há muito o que se fazer. Este sempre foi o caminho buscado pela raça humana. É a lei do menor esforço. Se podemos fazer quase tudo pela Internet: pagar, comprar, namorar, divertir, estudar, etc, por que devemos nos apresentar a alguém e perguntar pelo tempo? A sociabilidade é uma prática, quando deixamos de fazê-la, fatalmente esquecemos. E nisso a Internet tem sido a divisora de águas.
As gerações off-net não conseguem acompanhar este desenvolvimento. Saídas dos bancos escolares há algum tempo, veem-se desmotivadas a buscar o conhecimento. Por conseguinte, os diversos segmentos do governo nada fazem para inseri-las nesse universo. Até parece que o próprio governo também quer livrar-se dessa gente e-analfabeta.
As empresas, em especial bancos e aquelas voltadas para o e-comércio, é que deveriam investir nesse nicho, são eles os maiores interessados em adquirir novos clientes. Houvesse, por parte deles, uma pequena aplicação do enorme lucro obtido em instrução gratuita, com subsídios na compra de computadores, redução do preço do acesso à rede, dentre outras iniciativas, certamente todos sairiam lucrando.
Assim, uma vez que é inevitável brecar a e-volução dessa e das futuras gerações, resta apenas acompanhá-la para entendê-la, para falar a mesma língua. A língua em si é algo que sempre se inova. Talvez falando o mesmo dialeto deles diminua-se o fosso hoje existente. O mais é encarar com naturalidade.