quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O edifício



O Manoel Pinto da Silva perdeu todo o encanto
Lá pras bandas das docas, noutro canto
Há edifício com visual mais panorâmico
O que faz com que o voo seja mais dinâmico.

Só há uma desvantagem
Que pode tornar monótona a viagem
No caminho nenhuma mangueira
Apenas algumas plantas rasteiras.

É um caso a pensar
Ainda deve haver no parque um bar
Um local para refletir
Quem sabe, até mesmo desistir.

Aqui embaixo dessa mangueira
Repassei uma vida inteira
Não vou deixar Belém daquela maneira
Faça de conta que tudo não passou de simples brincadeira.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

De ressaca em Búzios


Madame X saiu de Minas para passar o réveillon em Búzios. Encontrei-a desconsolada numa manhã do dia 1º na Praia de Geribá. Os olhos vermelhos não davam para identificar se era devido ao choro ou à erva maldita, muito comum no balneário. Você nem precisa fumar para ficar doidão. Acho que poderia ser creditado aos dois. O leitor mais apressadinho já deve estar imaginando que a mineira viera sozinha, que essa conversa de marido é furada. Também pensei, mas bastou conversar dois minutos com a mulher para ver que ela estava falando a verdade. Mostrou-me quatro passagens: duas de vinda e duas de ida. Mostrou-me ainda as certidões de casamento e de nascimento do único filho, que ficara em Minas estudando para prestar provas num concurso público. Então perguntei porque ela ainda não fora à policia registrar o desaparecimento do marido. Estava aproveitando aquele momento, o primeiro sóbrio depois das festas, que duraram três dias, para fazer a ocorrência. Policial nenhum acreditaria numa mulher embriagada. Reservou a parte da tarde para fazer isso. Bom, pela pressa imaginei que o casamento não andava lá muito bom, mas essa é uma seara que costumo não me meter, por maior que seja a abertura e a necessidade que o outro tem em desabafar. Nos meus vinte e poucos anos de profissão já vira de tudo, e não estava ali como psicólogo, estava ali porque me vi diante de uma pessoa desamparada. Claro, claro, a beleza da senhora X foi o que inicialmente chamou-me a atenção. Vocês devem imaginar que mineiro só é solidário no câncer, mas isso é coisa do Oto Lara Rezende. Até achei-a parecida com uma ex-namorada. Ofereci-me para acompanhá-la até a delegacia, caso ela achasse necessário. Achei até que ela concordou um pouco rápido. Ofereci-lhe um drink e disse que a partir daquele momento estaria à disposição dela. Ficamos ali, curando nossas ressacas, filtrando nossos sangues. Sim, eu também era casado, respondi-lhe. Mas a minha mulher, continuei, ao contrário do seu marido, ficara em Sete Lagoas. Eu estava em Búzios a trabalho, melhor, num congresso. Você deve conhecer a minha família, disse ela, ao mesmo tempo que procurava umas fotos na bolsa. Mexe, remexe, volta com uma foto 10 x 15. Essa é minha irmã, a minha sogra... Essa sou eu. E esse sou eu. Dinorá, o que você está fazendo aqui. Eu que te pergunto. Caímos na gargalhada e juramos nunca mais misturar um tal pozinho branco com vodca.