terça-feira, 15 de novembro de 2011

Alguns alucinados satisfazem-se com o foco de lâmpadas, depois ficam irados quando qualquer inteligente acima da média aciona o interruptor. (L. Vidal)
Alguns alucinados satisfazem-se com o foco de lâmpadas, depois ficam irados quando qualquer inteligente acima da média aciona o interruptor. (L. Vidal)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

opus 105


Queria ser um poeta pré-histórico
Com uma lasca de pedra
Fazer poemas rupestres
Acordar às onze
Devorar um bisão
Depois dormir 
E somente acordar na idade do bronze
Em plena Praia Grande.


Opus 104

Que se cumpra o meu desejo
Amanhã te vejo
Quero enchê-la de beijos
Até que a rima acabe
Até que o sol se ponha
Até que eu sacie esta minha sede
Até que a saudade se esconda em furtiva sombra
E você se vá, menos como veio
Já com vontade de voltar
Num círculo vicioso
Até que a rima volte
No sol nascente
Aguardente
Que o sol te exponha
Que a saudade se derreta
Num sol a pino
Que perca rumo o tino
Ao badalar dos sinos
.

sábado, 12 de novembro de 2011

Piada de Lot (002)


Lot comentava que o câncer no Lula fora causado pelo fumo, por isso ele, Lot, não fumava. Mas você não fuma por que o ex- presidente está com câncer ou porque o cigarro causa câncer? Vidal, você sempre querendo me enrolar, eu nunca fumei, pronto. Agora, continuou ele, você sabe qual a maior causa de câncer na mulher? Não, não sei. Pois é, são os produtos de limpeza como detergente, sabão, água sanitária. Essa então, é a mais perigosa, causa câncer no cloro do útero.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

opus 103

 Ela descia os degraus
 E eu os contava
 No segundo apareceram os tornozelos
 Como não sou fetichista
 Esperaria o corpo inteiro
 Os joelhos me aparecem no terceiro
 Desfilando degrau por degrau
 O corpo inteiro só no último apareceu
 Quem contaria degraus na presença de uma deusa
 Devo ter parado no quinto
 Depois... no quarto.
A maçã não é massa somente É massa, casca e semente Mulher não é só bundas e seios Na mulher, o que há de mais belo Está justo sob o seu cabelo Se diferente fosse não haveria nexo Pobre é o homem que só vê na mulher, sexo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Opus 102


Eu não vi o brilho da lua
Chegar à abóbada celeste
E fugi, como o diabo foge da cruz,
Da rima na primeira pessoa do infinitivo
Também não vi o dia passar
Passei a metade dele aqui
A outra metade passei ao celular
Não dormirei direito nem torto
Não dormirei de forma alguma
Ganharei a rua
E a mesa de algum bar
Estarei esperando você chegar
Ah, mas se você não vier
Sei onde te buscar
Juro que você virá comigo
Atenderá o meu apelo
Ou te trago pelos cabelos
Mas tudo isso, você sabe, é só para impressionar
Porque para você guardo o melhor de mim
Nasci e morro só para te amar.

opus 101


Morresse eu agora, feliz morreria
Sim, pq acabo de renascer
Mas após o renascimento não está nos planos me fazer morrer
O desejo divino caso esse fosse
Nem me renascido teria. (L. Vidal)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Piada de Lot (001)




Encontrei com Lot pela manhã, na padaria de Andinho, e perguntei-lhe como estava. "Vidal, meio barro, meio tijolo". Mostrei-lhe algumas poesias e começamos a discutir sobre períodos literários. Ele disse que gostava mais do Modernismo, em especial de Drummond. Eu lhe disse que gostava de Gregório, poeta do Barroco. Caí, então, na besteira de perguntar-lhe a respeito dos versos onde eu escancaradamente imitava o poeta baiano: "Vidal, a sua poesia tá igual a mim: meio barroca meio tijoloca".

domingo, 29 de maio de 2011

Where are you from?


Uma vez na Inglaterra, não deixaria passar a oportunidade de me arriscar num Inglês solo. Afinal, teria que valer para alguma coisa as minhas aulas há uma semana antes de viajar. Era obrigação me virar pelo menos no básico. Mas o problema é que eu não sabia qual era o básico em Londres, só sabia o básico no Brasil. Ninguém perguntaria o meu nome, nem diria “nice to meet you, too”, até então a única reposta que eu daria sem vacilar. Mas como aquela gente toda nunca mais me veria, por que dentro de uma semana já estaria de volta ao Brasil, resolvi sair do hotel com o mapa e a tradutora no bolso. Eu sabia o mais importante: o endereço do hotel e que a poucos metros estava o Hyde Park, para onde eu desejava ir. Eu já estava na Park Street, caminhei uns 50 metros e parei em frente a um loja de antiguidades e perguntei a um senhor que estava na porta, como eu chegaria ao Hyder Park. O homem mandou-me dobrar à direita e seguir em frente, direto. Agradeci no meu Inglês e segui o caminho. Uns dez metros depois olhei para trás, para ver se o senhor me seguia com os olhos. Ele havia entrado. Dei um sorriso, e um grito ecoou dentro de mim: eu havia entendido perfeitamente a informação dada em inglês, sem pedir para repetir ou falar mais devagar, e ele havia entendido a minha pergunta de primeira. Queria provar da experiência novamente. Só não podia me arriscar a ficar distante do parque, sequer perguntaria por ele, pois estava logo à minha frente. Abri o mapa e verifiquei que a rua paralela a que eu estava se chamava Wood´s Mews. Na minha direção estava vindo uma senhora com um York Shire preso à corrente. Ela mandou que eu dobrasse a esquerda na Duraven Street, a Wood´s Mews fazia esquina com ela. A impressão que eu tinha é que aprenderia o idioma naquele quarteirão. Estava me sentindo muito confiante, ia sair perguntando, e, quem sabe, arriscar uma conversa. Ouvi dizer que o inglês adora falar sobre o tempo, principalmente quando não está chovendo. E assim eu fiz. Já ia andar o quarteirão pela terceira vez quando a polícia me parou. Alguns moradores haviam me denunciado. Também, o que eu queria, só pela embaixada brasileira na Green St, eu passara umas três vezes. Mas o melhor disso tudo foi que o básico do básico me foi exigido pelo policial. A primeira coisa que ele me perguntou foi de onde eu era, em seguida o meu nome. No final ganhei uma companhia até ao Hyde Park e mais algumas lições grátis.

domingo, 17 de abril de 2011

No Brasil, todo dia é dia de chacina





No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
Poema Brasileiro, Ferreira Gullar

Seja honesto, caro leitor, e me diga se por acaso ainda lembra das chacinas ocorridas numa quinta-feira à noite nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados, na Baixada Fluminense. Foram mais de 30 mortos. Aconteceu em 2005. Não lembra? Eu também não lembrava, quem avivou a minha mente foi o Google. Das chacinas, lembro vagamente de Vigário Geral, Candelária, Carandiru e Presídio São José, em Belém do Pará, Ah, tem a de Eldorado dos Carajás, também no Pará, estado que amo tanto ou mais que o Rio de Janeiro. Em termos de chacinas, acho que o Pará é disparado o campeão brasileiro. Lá, terras são disputadas à bala. Como a Reforma Agrária anda a passos de tracajá, quelônio da Região Norte, muitas mortes acontecerão ainda.
Assim como havia, ainda no Brasil colônia, as Entradas e as Bandeiras – assassinos travestidos de desbravadores -, a primeira estatal, bancada pelo governo português, e a segunda privada, nós temos ainda hoje as chacinas públicas, cometidas pelo ou com a participação do Estado, seja por ação ou omissão, e as chacinas particulares. São estatais as chacinas cometidas nos hospitais públicos, nas filas do INSS e aquelas praticadas por policiais, em serviço ou não; são privadas as chacinas perpetradas por fazendeiros e bandidos de todos os tipos e gêneros, excetuando-se os policiais, pois funcionários públicos. Há, ainda, as chacinas com dupla participação: os motins em delegacias e presídios e a matança dos nossos índios, por fazendeiros ou filhinhos de papai da capital do país. É obrigação do Estado manter a segurança do seus presos, já a responsabilidade pela segurança dos indígenas é obrigação da FUNAI. Em termos de homicídios, o Brasil certamente ocupa lugar privilegiado. Alguém acha que não seja assassinato a morte de bebês por falta de clínicas neonatais? Os abortos realizados por mães adolescentes? E a constatação de que no Piauí de cada dez crianças nem sete completam os dez anos de idade? Culpa de quem? Do Estado, lógico.
Pior que o nosso gigante adormecido só o famigerado Afeganistão, onde somente duas de cada dez crianças completam os cinco anos de idade. Mas a economia afegã ocupa apenas a 110ª colocação. O país, que sempre sofreu invasões ao longo de sua existência, passou por três sangrentas revoluções nas três últimas décadas, não tem saída para o mar, há poucas terras cultiváveis, possui uma inflação de mais de 20%, tem uma população com maioria analfabeta, enfim, só está sobrevivendo graças à ajuda internacional, o que não é o caso do Brasil. Mesmo assim, no Afeganistão ocorrem menos chacinas que aqui.
Em pouco tempo varreremos Realengo das nossas mentes. A essa tragédia está reservado o mesmo lugar das outras: o limbo da nossa memória. É bom que a esqueçamos mesmo, remoer casos como este nos faz muito mal, sem contar que não podemos tirar quase nenhuma lição do que aconteceu naquela escola, a não ser que devemos nos tratar melhor, amar mais, porque o tempo também está no cano de uma arma, na cabeça de um insano. O louco que matou aquelas crianças era considerado um sujeito inofensivo. Como ex-aluno, entraria mesmo na escola. Pensar em detector de metais e seguranças revistando bolsas é inviável, como já declarou uma autoridade no assunto. O que não podemos fazer é banalizar nenhuma morte, seja ela de crianças, trabalhadores, sem terra, sem teto, índios, presidiários, e até mesmo bandidos. A figura do carrasco tem que continuar na Idade Média. A policia inglesa foi questionada justamente quando matou, sendo assim, policia boa não é a que mata e sim a que prende. O que mais fazemos nesse país é banalizar as chacinas e os escândalos de toda espécie.
Combinei com o editor que enviaria o texto na segunda-feira, 18, por e-mail, depois que eu lesse os jornais da capital, assim eu ganharia tempo e material para provar a minha teoria, mas não foi preciso esperar tanto. Em Macaé, nossa vizinha rica, a apenas 94 Km, policiais do 32º Batalhão da Polícia Militar, na sexta-feira, mataram quatro jovens com idade de dezoito anos. Acho que vou mudar o título do meu artigo para “Todo dia é dia de chacina no Estado do Rio”.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Amor nos tempos de chuva




Com essa chuva fina
Que cai nesse momento
Vamos, minha menina,
Acaso existe melhor argumento?

No meu quarto tem edredon
Já aluguei um DVD
Lá é tudo de bom
Estás esperando o quê?

A chuva vai passar
E com ela a minha vontade
Aí não adianta reclamar
Será um pouco tarde.

Ah, estás esperando pelo pagamento
Tu és muito da interesseira
Quero dizer que lamento
Estava apenas de brincadeira.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A farmácia


Estava preocupadíssimo com a relação de exames e de remédios que o psiquiatra lhe prescrevera. Sentiu que o mesmo mentira, o caso devia ser muito, mas muito grave. Com as receitas na mão, entrou na farmácia do bairro, entregou-a à balconista e ficou a passar os olhos na sessão de cosméticos. Chegou a pensar que certa mesmo estava Ana, sua mulher, que gastava uma fortuna em cremes e loções mas não ia precisar, pelo menos agora, gastar com remédios, que nem sabe se curariam. Foi despertado pelo "pronto, senhor" da atendente, que lhe entregou uma cestinha com a maioria dos medicamentos, exceto um. Achou estranho, pois parecia ser o mais comum. Perguntou pelo dono da farmácia, colega de muitos anos, e obteve como resposta que o mesmo havia viajado. Achou mais estranho ainda, Ângelo não viajava nunca. Quis, então, saber há quanto tempo a funcionária trabalhava ali, pois nunca a vira antes. A moça, assustada, abandonou o balcão e entrou correndo na sala de curativos e injeções. Ele olhou para a caixa e viu nela outra pessoa estranha, e esta também abandona o posto e corre para o escritório. Sem saber o que fazer, foi atrás da funcionária. A porta estava semi-aberta, com três leves toques com os nós dos dedos, chamou pelo amigo. Como ninguém atendesse, empurrou a porta e entrou devagar. O ambiente cheirava a enxofre e pólvora. A um canto, manipulando pipetas e cadinhos, estava uma pessoa de porte avantajado e de costas, parecia não ter notado a sua presença...
Bom amigos, vão pro cacete, essa história está me dando medo, não ferra, tô fora, sintam-se à vontade para terminá-la, é isso.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A viagem


Nem foi preciso o ônibus sair da rodoviária. Mal sentou-se na poltrona, adormeceu, vencido pelo cansaço do plantão do dia anterior. A viagem fazia parte da sua rotina. Toda segunda-feira às 6h40 pegava o ônibus em Arraial do Cabo e descia em Itaboraí, onde morava. Por medida de segurança, nunca trabalhava na própria cidade, achava muito arriscado ser reconhecido. Como sempre, a viagem trancorria normal, exceto pela vontade repentina de ir ao banheiro. Efeito do diurético que tomara ainda na delegacia. A pressão arterial andava meio alterada, mas nada preocupante, segundo o médico.
Levantou-se da poltrona e caminhou pelo corredor até ao banheiro. Como não estava habituado àquele tipo de sanitário, demorou a se localizar no interior do cubículo, para piorar, o ônibus sacolejava muito, mas mesmo assim conseguiu aliviar a bexiga. Deu descarga, lavou as mãos e saiu. Qual não foi o seu espanto ao perceber que não saíra do sanitário do ônibus, mas sim de um localizado no trevo da Rio-Manilha.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ratos



Acordou na madrugada com um suposto barulho no escritório. Levantou, pé ante pé, pegou a lanterna na gaveta e foi, cheio de coragem, verificar in loco. “Um rato, era tudo o que me faltava”, pensou. Não, não era rato, era somente o inofensivo mouse do computador, que de aparência com o rato só o fato de ter um rabinho e o formato, mas o equipamento estava imóvel, não dava mesmo pra confundir. Não dava na sua cabeça, na minha, pois pra o Fabinho, o mouse estava correndo sobre a mesa, e não era mais um mouse, era um rato. Resolveu que o camundongo não tiraria o seu sono. Ufa, melhor assim. Trancou a porta por fora e voltou a deitar e pegou no sono rapidamente.
Dia seguinte, bem cedo, foi ao mercado e comprou veneno para ratos e uma ratoeira, queria se garantir. À noite, delicadamente, espalhou o produto pelos cantos do escritório e deixou alguns grãos sobre a mesa do computador. Certamente pegaria o animal, que, aliás, não lhe causara nenhum dano até o momento, pois nem o sono lhe tirara.
Acordou bem disposto pela manhã e antes de qualquer outra atividade rotineira, como ir ao banheiro e em seguida tomar o café e ler os jornais, foi direto ao escritório. Abriu lentamente a porta do escritório e entrou sem fazer barulho, como alguém que está prestes a dar um flagrante. Meio desapontado, verificou que os grão do veneno espalhados pelos cantos não haviam sido tocados, estavam intactos, do mesmo jeito que deixara à noite. Restava verificar a ratoeira, deixada providencialmente no banheiro. Vai que o bicho tenha ficado preso na armadilha, certamente teria sangue, e ele não estava disposto a manchar o carpete do escritório. A porta do banheiro estava semi-aberta, sem movimentá-la, Fabinho colocou a metade do corpo no ambiente e passou a perscrutá-lo. Não demorou muito para verificar que havia algo preso à ratoeira. Nojento que só, fechou a porta do banheiro, em seguida a do escritório e foi tomar o café normalmente. Aquilo era serviço para a empregada, só não pediria para ser feito naquele momento, deixaria para depois do café, quem sabe, ligaria da empresa. E foi o que fez.
“Como assim, comprar outro mouse, dona Luiza?”

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Flor



Querida Flor
Depois que a conheci passei a tomar remédios controlados
Um deles somente para controlar a dor
Um outro me faz sentir acompanhado
Lembra que me sentia como um cão abandonado?
Culpa sua Flor, toda sua
Desse seu desamor, desse seu desapego,
Desse seu falso aconchego,
Desse seu afastamento
Achei que a sua visita, Flor, me reergueria
Já me sentia seguro de mim
Que nada Flor, você só não me visitou,
Como tive recaída
E aqui estou
Agora me prostraram num leito
E me ligaram a um frasco
Flor, Flor, sou mesmo um fiasco
Se sair dessa nunca mais lhe procuro
Chega de andar no escuro
Estarei mais seguro sem ti,
Mas é bem verdade
Que sentirei saudade.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Aguarrás


O poeta encara a plateia e diz:
Este é da minha nova safra
O público espera que ele venha com algum Grange
taças da Bohêmia e sacarrolha a gás
E o que ele traz?
Vinagre, arremedo de vinho, aguarrás
Vez ou outra, alivia, oferece uma cachaça
Envelhecida em algum quintal das gerais.
Não, nunca falo de amor
Nem quando falo de amor
Não tenho o menor traquejo
Nunca senti esse desejo
Nem sou cantor sertanejo
Os meus versos têm fator Rh
Embora não pareçam
Mas já responderam a processos
Mas como a luta com palavras é vã
Sequer espero o amanhã
Tudo que tenho a dizer é nada
Diante de tudo o que já foi dito antes e por mim
Não me cobrem nenhum sacrifício
Não faz parte do meu ofício
Falei que a passagem ia aumentar
Mas falei isso muito antes
Agora é muito tarde, comprei o meu automóvel
Este é da minha última safra
Mas não bebo mais
Querendo, lhe empresto,
Mas aviso antes: não serve para beber,
Só serve para quebrar.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Boletim de excrescência


Nesse momento me deu vontade de fazer poemas
Junto a essa vontade uma dor no que me resta de consciência
Ainda não escrevi nenhum verso e um brasileirinho morreu no parto
Outro morreu de assalto
Dezenas, no asfalto
Uma adolescente acaba de ser violentada
Não era prostituta infantil,
Foi violentada em casa, pelo padrasto.
É isso, essa minha pátria mãe é na verdade madrasta
E há muito que se distraiu
E nós, seus filhos, estamos indo para a puta que pariu
E eu aqui, fazendo versos
No alto da minha arrogância
Tomando cerveja gelada, me exibindo para amigos
Nada faço
Sequer me apiedo do pedinte
Que um trocado me pede
Enquanto ele estende apenas uma das mãos
Eu levanto as duas e digo NÃO!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Amor


Nada de liquidação
Ou passagem aérea em promoção
Esqueça Paris, Nova York, Roma, Milão
O bom é o boom do amor
Não é só o sexo
Fácil como rimar com nexo
But the pure love
Do fundo do coração, ou do fígado,
Rins, músculos, pulmão,
O amor de um simples amplexo
Sem nenhum complexo,
De raça, credo, cor
Nem mesmo de sexo
Assim deve ser o amor

Faça amor com o cérebro,
Com a língua, com todos os dedos
Com as mãos
Seja um Edison, Marconi, Santos Dumont
Dê asas a sua imaginação
Se preciso for, tome um red bull,
Cachaça, vinho, cerveja,
Rum, vodka, caipirinha com limão,
Isso, tenha sede,
Tenha fome, cultive, colha,
Mas nunca use gelo no amor
Pode congelar o coração


O amor está aberto a inovações
O amor até aceita adaptações
Já navega na grande rede
Faça dowload, upgrade,
Faça até mesmo amor virtual
Pode ser tão gostoso quanto o, digamos, real



O amor não tem limite
O amor se permite
Vai lá, é melhor que uva sem caroço,
Que sorvete com calda, escada rolante,
O amor é um traço,
Um traço marcante,
Pode ser só um abraço,
Longo, curto, apertado,
O amor está num sorriso perfeito
E até mesmo num acanhado
Afinal, não é preciso ser poeta
Nem ter algum estudo
Para saber que o amor é tudo.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O edifício



O Manoel Pinto da Silva perdeu todo o encanto
Lá pras bandas das docas, noutro canto
Há edifício com visual mais panorâmico
O que faz com que o voo seja mais dinâmico.

Só há uma desvantagem
Que pode tornar monótona a viagem
No caminho nenhuma mangueira
Apenas algumas plantas rasteiras.

É um caso a pensar
Ainda deve haver no parque um bar
Um local para refletir
Quem sabe, até mesmo desistir.

Aqui embaixo dessa mangueira
Repassei uma vida inteira
Não vou deixar Belém daquela maneira
Faça de conta que tudo não passou de simples brincadeira.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

De ressaca em Búzios


Madame X saiu de Minas para passar o réveillon em Búzios. Encontrei-a desconsolada numa manhã do dia 1º na Praia de Geribá. Os olhos vermelhos não davam para identificar se era devido ao choro ou à erva maldita, muito comum no balneário. Você nem precisa fumar para ficar doidão. Acho que poderia ser creditado aos dois. O leitor mais apressadinho já deve estar imaginando que a mineira viera sozinha, que essa conversa de marido é furada. Também pensei, mas bastou conversar dois minutos com a mulher para ver que ela estava falando a verdade. Mostrou-me quatro passagens: duas de vinda e duas de ida. Mostrou-me ainda as certidões de casamento e de nascimento do único filho, que ficara em Minas estudando para prestar provas num concurso público. Então perguntei porque ela ainda não fora à policia registrar o desaparecimento do marido. Estava aproveitando aquele momento, o primeiro sóbrio depois das festas, que duraram três dias, para fazer a ocorrência. Policial nenhum acreditaria numa mulher embriagada. Reservou a parte da tarde para fazer isso. Bom, pela pressa imaginei que o casamento não andava lá muito bom, mas essa é uma seara que costumo não me meter, por maior que seja a abertura e a necessidade que o outro tem em desabafar. Nos meus vinte e poucos anos de profissão já vira de tudo, e não estava ali como psicólogo, estava ali porque me vi diante de uma pessoa desamparada. Claro, claro, a beleza da senhora X foi o que inicialmente chamou-me a atenção. Vocês devem imaginar que mineiro só é solidário no câncer, mas isso é coisa do Oto Lara Rezende. Até achei-a parecida com uma ex-namorada. Ofereci-me para acompanhá-la até a delegacia, caso ela achasse necessário. Achei até que ela concordou um pouco rápido. Ofereci-lhe um drink e disse que a partir daquele momento estaria à disposição dela. Ficamos ali, curando nossas ressacas, filtrando nossos sangues. Sim, eu também era casado, respondi-lhe. Mas a minha mulher, continuei, ao contrário do seu marido, ficara em Sete Lagoas. Eu estava em Búzios a trabalho, melhor, num congresso. Você deve conhecer a minha família, disse ela, ao mesmo tempo que procurava umas fotos na bolsa. Mexe, remexe, volta com uma foto 10 x 15. Essa é minha irmã, a minha sogra... Essa sou eu. E esse sou eu. Dinorá, o que você está fazendo aqui. Eu que te pergunto. Caímos na gargalhada e juramos nunca mais misturar um tal pozinho branco com vodca.