domingo, 7 de março de 2010

O secretário de inclusão


Não é que o prefeito da pacata Rosarina do Agreste, a 400km da capital, ia receber o assessor do governador do estado? Para a pequena cidade estava bom demais, porque a única coisa que vinha da capital era má notícia em lombo de burro velho, trazida por algum mascate igualmente velho. Isso, em lombo de burro, tamanho era o atraso do arraial.
Todos os preparativos estavam sendo feitos. A esperança era que o assessor saísse de Rosarina com uma boa impressão e trouxesse o governador, o que garantiria a reeleição. Tudo parecia correr dentro das normalidades, quando o mestre de cerimônia interrompeu o cochilo do prefeito.
_Sim, e eu com isso que o homem seja mudo?
_ Mas ele vem ver justamente isso, seu prefeito, o que nós fizemos com a verba para preparar os professores da rede para a tal da inclusão. Pior, não vai trazer intérprete. A verba, aquela verba que o senhor usou para comprar votos, era para os professores aprenderem LIBRAS.
_Vixe Maria!
_É, vixe Maria. E agora?
_Manda chamar o secretário de inclusão social
_E desde quando nós temos isso?
_A partir de agora. Nomeie alguém.
_Quem?
_Timbaúba.
_Abestou, é? O homem é de oposição.
_Então, é por isso mesmo. Ele para de falar mal da gente. Se der errado, o que eu acho que vai acontecer, quem se queima é ele.
_Mas como desgraça esse sujeito vai aprender a falar língua de mudo?
_Isso é mole, já vi na televisão. Esqueceu que a internet já chegou até nós? E o homem tem um computador em casa. Ele se vira, é coisa pra dar errado mesmo.
No dia e hora marcados, o Santana com placa branca estacionou diante da prefeitura.
O assessor desceu e se dirigiu ao gabinete. Ao lado do prefeito, todo altivo e só sorrisos, Timbaúba. Secretário de Inclusão Social, com portaria retroativa e direito a mais dez cargos comissionados, direito esse que ele exerceu imediatamente, nomeando toda a família, pois no interior é assim que funciona a política.
Conversa vai, conversa vem,Timbaúba até então estava perfeito. Conseguiu dar as boas vindas, apresentou o prefeito, a primeira dama e os secretários, mas quando a coisa pegou mesmo, mandou o prefeito chamar a polícia e prender o assessor do governador. Motivo? No gabinete ele disse ao prefeito que o assessor estava chamando não só o prefeito de ladrão, mas todo o seu secretariado, pois o gesto de cruzar a mão direita espalmada em vertical, sobre a esquerda com a palma voltada para baixo, queria dizer que o prefeito havia repartido a verba para a preparação dos professores. E o homem ficou mesmo preso durante alguns dias, até que o governador, vendo que o seu assessor não voltava da viagem, mandasse um intérprete e um advogado ao lugarejo. Adeus visita de governador, adeus reeleição,.
Em off, para o seleto grupo de amigos, Timbaúba, já sem portaria, disse que não perderia por nada desse mundo a oportunidade de acabar com a raça do prefeito, que agora estava passando por um processo de impeachment por conta mesmo do roubo. Mas quem conhece Língua Brasileira de Sinais, como o secretário de educação, que não é consultado nem na hora de contratar os professores, coisa feita pela primeira dama, garante que Timbaúba é um analfabeto em LIBRAS, pois o que o assessor dissera, entre outras coisas, foi que o prefeito estava negando aos surdos-mudos o acesso à educação. Não dissera que estava roubando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário