quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uma porta nada legal

Uma porta da casa do vizinho bateu à noite inteira e  Paulo César, 37 anos de idade, solteiro, funcionário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro não dormiu um minuto sequer. Dia seguinte, procurou o proprietário da casa para pedir providências. Não o encontrou. Outros vizinhos falaram que ele saíra no feriado e ainda não havia voltado. Paulo olhou demoradamente para a casa, que era geminada a sua, e nada viu de anormal,. A porta já não mais batia. 
Os dois imóveis, externamente,  eram iguais  em tudo. Luxuosos, com dois andares, jardins bem cuidados, construídos em área nobre de Cabo Frio, cidade praiana do Rio de Janeiro. Aliviado, Paulo entrou em casa, pegou a picape Hilux na garagem e foi para  fórum.
O serviço estava tranquilo. Como era segunda-feira, não teria juiz na comarca e não seria tão exigido.  Paulo chegou no cartório, cumprimentou os colegas de serviço, sentou-se na sua cadeira  e ligou o  PC. Visualizou o monitor, abriu alguns arquivos e em seguida  se levantou. Foi até à copa,  tomou  uma xícara de café sem açúcar - acreditava que lhe tiraria o sono -, brincou com os amigos e a seguir aboletou-se definitivamente em frente ao computador. Quinze minutos depois, o monitor estava em stand by e ele caturrava. Caturrar é quando se perde a cabeça por conta do sono. Ela ora cai pra frente, ora cai para trás, ou até mesmo para os lados, sem nenhum controle do proprietário, como um navio à deriva. O chefe do cartório, vendo a cena, deu-lhe uma cutucada e pediu que ele fosse lavar o rosto. Aquilo tava pegando mal. Como todos ali eram amigos, Paulo resolveu contar o que acontecera na noite anterior. Todos lhe deram apoio e o chefe resolveu dispensá-lo.
Paulo volta para casa, toma banho, almoça e começa a inventar coisas para driblar o sono. Em vão. Horas depois estava embaixo do edredon, tentando recuperar a noite mal dormida. Dorme seis horas seguidas e acorda por volta das dez da noite, hora em que normalmente se deita. Paulo se levanta, vai até ao banheiro e em seguida à cozinha. Abre a geladeira e retira alguma coisa embalada numa pequena caixa vermelha, que depois leva ao microondas, seria o seu jantar. Na verdade era uma lasanha de frango que Paulo come acompanhada de uma latinha de refrigerante. Estava na metade da refeição quando um barulho externo entra pela área de serviço, invade o corredor e enche a cozinha. Era a bendita porta que volta a bater, às 23 horas em ponto, como no dia anterior.
. (continua em breve)