quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Aguarrás


O poeta encara a plateia e diz:
Este é da minha nova safra
O público espera que ele venha com algum Grange
taças da Bohêmia e sacarrolha a gás
E o que ele traz?
Vinagre, arremedo de vinho, aguarrás
Vez ou outra, alivia, oferece uma cachaça
Envelhecida em algum quintal das gerais.
Não, nunca falo de amor
Nem quando falo de amor
Não tenho o menor traquejo
Nunca senti esse desejo
Nem sou cantor sertanejo
Os meus versos têm fator Rh
Embora não pareçam
Mas já responderam a processos
Mas como a luta com palavras é vã
Sequer espero o amanhã
Tudo que tenho a dizer é nada
Diante de tudo o que já foi dito antes e por mim
Não me cobrem nenhum sacrifício
Não faz parte do meu ofício
Falei que a passagem ia aumentar
Mas falei isso muito antes
Agora é muito tarde, comprei o meu automóvel
Este é da minha última safra
Mas não bebo mais
Querendo, lhe empresto,
Mas aviso antes: não serve para beber,
Só serve para quebrar.

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