segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

De ressaca em Búzios


Madame X saiu de Minas para passar o réveillon em Búzios. Encontrei-a desconsolada numa manhã do dia 1º na Praia de Geribá. Os olhos vermelhos não davam para identificar se era devido ao choro ou à erva maldita, muito comum no balneário. Você nem precisa fumar para ficar doidão. Acho que poderia ser creditado aos dois. O leitor mais apressadinho já deve estar imaginando que a mineira viera sozinha, que essa conversa de marido é furada. Também pensei, mas bastou conversar dois minutos com a mulher para ver que ela estava falando a verdade. Mostrou-me quatro passagens: duas de vinda e duas de ida. Mostrou-me ainda as certidões de casamento e de nascimento do único filho, que ficara em Minas estudando para prestar provas num concurso público. Então perguntei porque ela ainda não fora à policia registrar o desaparecimento do marido. Estava aproveitando aquele momento, o primeiro sóbrio depois das festas, que duraram três dias, para fazer a ocorrência. Policial nenhum acreditaria numa mulher embriagada. Reservou a parte da tarde para fazer isso. Bom, pela pressa imaginei que o casamento não andava lá muito bom, mas essa é uma seara que costumo não me meter, por maior que seja a abertura e a necessidade que o outro tem em desabafar. Nos meus vinte e poucos anos de profissão já vira de tudo, e não estava ali como psicólogo, estava ali porque me vi diante de uma pessoa desamparada. Claro, claro, a beleza da senhora X foi o que inicialmente chamou-me a atenção. Vocês devem imaginar que mineiro só é solidário no câncer, mas isso é coisa do Oto Lara Rezende. Até achei-a parecida com uma ex-namorada. Ofereci-me para acompanhá-la até a delegacia, caso ela achasse necessário. Achei até que ela concordou um pouco rápido. Ofereci-lhe um drink e disse que a partir daquele momento estaria à disposição dela. Ficamos ali, curando nossas ressacas, filtrando nossos sangues. Sim, eu também era casado, respondi-lhe. Mas a minha mulher, continuei, ao contrário do seu marido, ficara em Sete Lagoas. Eu estava em Búzios a trabalho, melhor, num congresso. Você deve conhecer a minha família, disse ela, ao mesmo tempo que procurava umas fotos na bolsa. Mexe, remexe, volta com uma foto 10 x 15. Essa é minha irmã, a minha sogra... Essa sou eu. E esse sou eu. Dinorá, o que você está fazendo aqui. Eu que te pergunto. Caímos na gargalhada e juramos nunca mais misturar um tal pozinho branco com vodca.

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