segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Santa Catarina, rogai por mim



Marquei às nove horas na saída da universidade. Sou sempre pontual. Cheguei meia hora antes. Era o nosso primeiro encontro. Nos conhecemos pela Internet. Estacionei a picape com as duas rodas laterais sobre a calçada – a rua era estreita –, liguei o rádio para ouvir o jogo de futebol e aguardei Verônica, estudante de Filosofia, solteira, 24 anos, loura, olhos verdes, 1,70 de altura. Uau. Ah, catarinense, tinha que ser, rsrsrs, eu morava em Floripa nessa época.
Sabe aquela batida, tipo Código Morse: uma batida longa, seguida de duas breves e mais três longas? Assim: tan, tarantan, tan, tan. Isso. Até hoje não sei o motivo, mas sempre gostei dessa batida nada original, mais ainda agora, que a ouvia na minha janela. Bom, isso é o que menos importava, mas Verônica, não sei porque motivo, antecipou o nosso encontro, chegou meia hora antes, coisa raríssima se tratando de mulheres. Mas que ótimo que ela chegou.
Verônica!
Rui!
Vamos conversando no caminho?
Ótimo.
Liguei o carro e saí o mais rápido possível.
Interessante...
O quê?
... a cor do seu carro?
Azul
Sei, sei, mas você disse que era verde
Não, não disse que era verde
Bom, não será um detalhe tão simples que irá estragar o nosso primeiro encontro, não é mesmo?
Lógico que não, imagine.
Mas aqui, às dez horas tenho que estar de volta no portão da faculdade, o meu pai está vindo da Penha, vai ficar dois dias em Floripa e quer me ver.
Tudo bem. Já sei que hoje não rola nada.
Nem ia rolar, é o nosso primeiro encontro. Nem nos conhecemos ainda. Nós catarinenses não somos como as gaúchas, que dão no primeiro encontro.
Credo, que bairrismo. Nem sabia que havia isso por aqui. Nós vemos amanhã?
Sem problemas.
Bem, deixei a Verônica às dez horas e dez minutos no portão da universidade. Nos despedimos com beijinhos nos rostos. Manobrava para voltar para casa quando uma maluca riponga, toda desajeitada, óculos fora da moda, duas tranças rebeldes pendentes para os lados, uma franja desalinhada, atravessou na frente do carro. Parei em cima, quase atropelando, mesmo assim, ela veio só sorriso até a janela.
Oi, Rui, sou eu, Verônica. Atrasei dez minutinhos por causa da prova de Hermenêutica Filosófica.
Rui!? Que Rui? Meu nome é Raul.
Mas como, a descrição está batendo certinho. Picape azul.
Só há uma picape azul em toda Florianópolis?
Com placa de Ji-Paraná, dirigida por um nissei, acredito que só.

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