segunda-feira, 6 de setembro de 2010

MSN pirateado



Timbaúba era apagadão em informática. Sua mulher, ao contrário, era bamba no assunto, não que tivesse alguma formação técnica a respeito, mas pelo fato de passar horas e horas diante do computador. Melhor, era especialista em Redes Sociais; melhor ainda, em fofocas pela net. A mulher era tão astuta que até criara alguns fakes no Orkut e abrira um MSN falso para o amante e batizou com nome de uma de sua amigas:"Carmine". Isso, ela dava seus pulinhos, só para ficar num único eufemismo. Sacaram a esperteza dela? Quando o marido, ou os filhos,ou quem quer que seja, olhassem a telinha do computador, veriam um nome feminino, acima de qualquer suspeita. Eu, particularmente, não confio nessas tecnologias. Se é algo que pode dar errado, certamente dará. É a velha Lei de Murphy. Mas Bia a desconhecia, certamente.
Carmine, abro aqui um parêntese, a de verdade, era amiga de infânica da Bia. As duas não se viam há anos. Casada,filhos e morava numa cidade vizinha, portanto, as chances de se encontrarem eram grandes. Está aí, caro leitor, a brecha que a lei de Murphy precisa para, de soslaio, ou de solapa, pois que nela não há critérios definidos para se fazer valer. Digamos lá que as duas, ou os dois casais, se encontrem na rua. E se o assunto for a net? Vai lá que Timbaúba comente o fato de "as duas ficarem" madrugadas no bate papo. Carmine é terapeuta, trabalha em três hospitais, não tem tempo de ficar na net, muito menos de papo-furado.
Bom, não foi isso o que aconteceu, mas algo próximo, muito próximo, e pior. Era feriado e Carmine, que se fazia acompanhar do marido, fora resolver alguma coisa na cidade de Bia. Não leitor, não sei o que se pode resolver num feriado. Já falei sobre a minha onisciência. Carmine, volto a dizer, aproveitou o momento para visitar a amiga. O acolhimento foi maravilhoso. Ambas sentiam muitas saudades uma da outra. Afinal, só se “viam” pela net. Os quatro conversavam animadamente na sala quando o alarme do MSN chamou a atenção de Bia. Era “Carmine”. Os quatro se entreolharam.
_ É você me chamando, como é que pode? – falou Bia, fingida.
_ Estranho, não querida, Carmine está aqui. Será que deixou o MSN aberto em alguma lan-house? - conjecturou Timbaúba.
_ Não, Timbaúba, eu acesso a net de casa, não freqüento lan-houses.
_ Já sei – cortou o marido de Carmine -, vamos ver quem é. Responde aí, vai.
_ Não, acho melhor desligar essa máquina, falou Bia, Já prevendo algum desastre.
_ Isso mesmo, concordo com o companheiro. Vamos ver quem é. Eu mesmo respondo, já que se trata de uma fraude. Afinal, o policial aqui sou eu. Falou Timbaúba.
Não é que me esqueci de dizer que o Timbaúba era policial federal? Tudo bem, era somente um auxiliar de escritório, um burocrata, que mal sabia empunhar uma pistola, mas era policial.
Os quatro se aboletaram diante do computador e começaram a conversar com o internauta do outro lado.
_ "Oi", disse o internauta.
_ "Oi, td bem", perguntou Timbaúba.
_ "Sim, MS c sdades",
_ "tb"
_ "a última vez foi muito bom"

- "é, foi ótimo"
- "vamos di novo?"
_ "sim"

- "no mesmo lugar"

- "que tal mudarmos?"

- "onde?"
Caro leitor, para economizar o seu tempo, digo logo que eles marcaram um encontro num local chamado Galioto.
Dia seguinte, foram todos para o Galioto, melhor, Bia foi para o Galioto, os três ficaram escondidos, num carro alugado, com os vidros escurecidos.
Àquela hora havia pouco movimento no bar. Bia entrou, sentou-se numa das mesas que dava vista para o lado de fora, e ficou aguardando o ilustre internauta. Não poderia se recusar a fazer o que estava fazendo, isso levantaria suspeitas. No carro, com um binóculo, Timbaúba observava atento. A instante fazia contato com a mulher pelo microfone espião, preso a um dos brincos.
_ Ridículo, isso, dizia ela. Vou-me embora.
_ Vai nada, precisamos desmascarar esse bandido. Onde já se viu cantar a minha mulher assim, ainda mais usando o nome da sua melhor amiga. Isso é crime, dizia convicto o marido.
Lá pelas tantas, entra no restaurante um conhecido do Timbaúba, outro policial federal, o delegado Clarck.
- O que esse cara está fazendo aqui. Será que é ele o tal hacker, Timbaúba perguntou para o casal.
_ Amigo, desconfio de coisa pior. Acho que você está tomando bola nas costas, falou o marido de Carmine. Não há hacker algum. A sua mulher montou esse MSN com a foto da minha para conversar com esse delegado. Você é mesmo corno e eu vou processar a sua mulher por danos morais. A minha não tem nada a ver com essa história.

A discussão ia começar quando a voz de Bia soou no equipamento:
_ Amor, esse sujeito está dizendo que é delegado, diz que vai me prender por crime na net, vem cá, amor, por favor.
- Pronto, deu merda, agora vai é todo mundo preso, eu estou fora, foi dizendo o marido da Bia.
- Fora nada, você vai comigo, você é a única pessoa que pode testemunhar a favor da Carmine. Esqueceu que o testemunho de parente não vale?
E entraram todo no Galioto. Explica daqui, explica dali, tudo ficou esclarecido: um hacker estava brincando com as pessoas. O delegado federal que estava acompanhando o caso achou que aquele seria o momento de pegar o bandido.
Tudo claro como a clara, todos foram embora. Na hora de deitar, o marido de Bia faz a seguinte observação:
_ Amor, sua amiga não detestava uísque? Ela pediu e sequer tocou no copo.
_ Vai ver estava nervosa, respondeu a mulher.
_ “Se eu estiver com um copo de uísque, não se aproxime”. Onde já vi esse filme?
_ Vamos dormir, amor!

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