quarta-feira, 30 de junho de 2010

Insegurança


Confesso que já me senti mais seguro
Mas isso já faz algum tempo
Muito antes do muro
Não o Muro de Berlim,
Mas muito antes, sim
Sequer havia favelas por aqui
Ou invasão
Muito menos, ladrão
A Polícia era o cabo Jorge, o soldado Faqueco
E o doutor Claudio
Que descobrimos, muito depois, que também era soldado
Quanta pureza havia na nossa alma
Quanta beleza, que vida calma
Não havia batalhão
Nem delegacia legal
Pois o legal era o cidadão
Éramos todos amigos
Podia até haver alguma intriga
Nada que duas Igrejas não resolvessem
Mas nada de assalto
Nada de assassinato
Sequer havia corrupção
Se havia era mais velada
Não tanto às escancaras
E tão conhecidas caras
Confesso que já me senti mais seguro
Mas agora ando mesmo em cima do muro
Com cacos de vidro e arame farpado
Grades nas janelas, trancas nas portas,
Câmeras pra todo lado
Aqui pra nós: ando até armado
Mas não ando de madrugada,
Nem ando sozinho,
E respeito os bandidos da cidade
Nem sou louco de denunciá-los
Tenho mesmo medo de morrer
Confesso que já me senti mais seguro
Mas isso já faz algum tempo
E quanto mais tempo, menos seguro
E quanto menos seguro,
Menos tempo
Menos tempo com os amigos,
Com a família,
Menos tempo comigo mesmo
Confesso que gostaria de andar só
Mas ando com o Medo.

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